A maioria das pessoas reclama sobre a quantidade de tempo que crianças e adolescentes passam em frente a tela de um computador ou de um celular. No entanto, adultos, e até mesmo idosos, também vem mostrando dificuldades em permanecer longe de um smartphone. O vício em smartphones, assim como o vício em mídias sociais estão intimamente interligados, e isso acaba provocando alguns riscos à saúde mental.
Apesar de ter uma aparência de interação social, as mídias digitais podem provocar ainda mais o isolamento das pessoas. Além disso, ver a vida online de outra pessoa, geralmente bem cuidadas, e às vezes enganosas, acaba sendo deprimente para muitos. Diversos aplicativos são projetados para produzir respostas que acabam induzindo a química do cérebro e estimulando a pessoa a permanecer o máximo de tempo possível na tela, levando a um comportamento de dependência, já que nossos “olhos” e nossa “atenção” possuem um valor muito grande no mercado digital. Alguns estudos chegam a comparar o efeito viciante do celular ao efeito viciante de máquinas caça-níqueis, cujas recompensas são intermitentes, isto é, a recompensa é imprevisível, você não sabe exatamente quando ela irá aparecer, mas fica com a esperança que ela apareça, e isso faz com que você fique o tempo todo buscando alcança-la, de forma contínua, tornando a pessoa ainda mais ansiosa.
E, quando se abre o celular, e não se encontra nada de bom? O que acontece? Bem, é aí que começam os sintomas como ansiedade, melancolia, agitação mental e física, perda do sono, distrações, fadiga mental, entre outros. Estudos mostram que um simples “like” ou uma simples “curtida” são por si só uma recompensa suficiente para fazer com que uma pessoa acabe se tornando dependente dessas pequenas “aprovações” sociais, para conseguir sentir a sensação de satisfação e felicidade, ao invés de obter essa mesma sensação por meio de outras fontes. A gratificação é instantânea, e isso vicia. Algumas pessoas podem até mesmo sentir "abstinência" e sintomas fisiológicos, como aumento da frequência cardíaca e pressão arterial. Os níveis de atenção e concentração ficam prejudicados, a memória vai dando espaço ao esquecimento constante, e a tendência de conseguirmos fixar informações (justamente na era da informação), vai ficando cada vez pior, alterando assim a dinâmica do nosso cérebro. Até mesmo a cor vibrante utilizada nas notificações das mídias sociais, são projetadas para chamar mais a atenção do usuário, acrescentando o estímulo visual que, junto ao estímulo sonoro, e também tátil da vibração do aparelho, se torna forte o suficiente para que a memória armazene a experiência. Por sua vez, isso faz com que a pessoa busque novamente esses mesmos estímulos afim de se sentir bem e feliz.
O grande dilema do celular, é que, temos de admitir, ele é um aparelho extremamente útil, e é justamente isso que torna ainda mais difícil usá-lo na dose certa e não exagerar no seu uso. A própria tecnologia vem oferecendo opções para usar o celular de forma mais inteligente, rastreando e alertando o usuário na quantidade de tempo que ele se mantém ocupado no aparelho. Para melhorar o relacionamento com o celular, será preciso fazer, por um certo tempo, uma espécie de ‘’dieta digital’’, que envolve ficar alguns momentos longe do aparelho quando estiver com a família, desliga-lo por algumas horas, eliminar alguns aplicativos e notificações e substituir algumas funções por outras alternativas. É importante saber que é possível corrigir nossos comportamentos de dependência e encontrar um relacionamento com nossos telefones que não seja tóxico, mas sim produtivo e positivo, lembrando que, apesar de gratuitos, os aplicativos vendem um produto que é muito caro: a atenção, e quando decidimos aonde queremos investir nossa atenção, estamos na verdade decidindo como queremos gastar nossas vidas.
Sálua Omais é psicóloga e professora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), tendo sido a 1º profissional a implantar, no estado de Mato Grosso do Sul, a disciplina de Felicidade & Inteligência Emocional como parte da grade acadêmica. Possui Mestrado em Psicologia da Saúde e Saúde Mental, Master Coach e Master Trainer em Psicologia Positiva pela European Positive Psychology Academy, Educadora Certificada pela Positive Discipline Association (USA), Trainer em Neurossemântica e Programação Neurolinguística pela International Society of Neurossemantics (USA). É autora dos livros "Jogos de Azar" (Ed. Juruá/2008) e "Manual de Psicologia Positiva" (Ed. Qualitymark/2018).
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