sexta-feira, 21 de junho de 2019

FOME EMOCIONAL



Comer. Uma necessidade ligada à sobrevivência, mas que, pode nos levar à morte tanto pela falta, quanto pelo excesso. Mais do que uma necessidade física, o ato de comer está intrinsecamente relacionado a questões emocionais, culturais, sociais. A comida faz parte de momentos onde vivenciamos os sentimentos mais diferentes possíveis, sejam positivos ou negativos. A tristeza, a raiva, a ansiedade, podem ser gatilhos para a comida, como forma de confortar ou aliviar a dor, assim como a alegria e a diversão também, porém com outro intuito: comemorar ou celebrar, já que as melhores lembranças da vida são sempre acompanhadas de comida: aniversários, casamentos, festas, almoços, reuniões de família, entre outros.

O ser humano busca a felicidade basicamente por dois caminhos. O da gratificação imediata, que traz a sensação de conforto e segurança. E o outro, o caminho da felicidade mais duradoura, da excelência, que vem da busca de algo maior, de um propósito. Muitas pessoas utilizam a comida e a bebida como válvula de escape para dor, para lidar com frustrações, decepções, ou também, para se consolarem em momentos de solidão. E aí, chega um ponto, onde a comida se torna, para muitos, uma das poucas fontes de alegria na vida. A fome emocional é muito mais exigente que a fome real. Ela não aceita ‘’qualquer’’ tipo de comida, mas somente aquelas mais ‘’especiais’’ e ‘’saborosas’’. Um dos sinais da fome emocional é que, ao invés de satisfação e saciedade, a pessoa é envolvida por emoções e sentimentos de culpa, vergonha, remorso, e raiva de sua própria impotência e descontrole sobre a comida. E aí começa o ciclo: emoções negativas despertam a vontade de comer, e após comer, outras emoções negativas surgem, fazendo com que o processo se inicie novamente. A fome emocional tem suas raízes em aprendizados e associações que fazemos desde a infância, porém, não se restringe somente a isso, mas também a costumes e hábitos socialmente disseminados pela cultura e pelo meio em que vivemos.

A questão que inicia o processo emocional da fome é: qual é a sensação que estou tentando não sentir?  Qual o problema que não estou conseguindo resolver ou então, o que está faltando e que estou tentando preencher com a comida? Emoções nos levam à comida porque não sabemos lidar com elas de formas diferentes. Não aprendemos e ninguém nos ensinou a agir de forma inteligente com nossas emoções, mas sim de forma instintiva e primitiva, e aí, quando emoções negativas nos afligem, a comida se torna uma fuga, um consolo e uma forma de alívio. Dietas, a longo prazo, são fadadas ao fracasso se o indivíduo não aprender a lidar com suas emoções ou enquanto não desconstruir crenças e associações que fazem esse processo ser algo tão automatizado. Identificar os gatilhos que estimulam a fome, exige autoconhecimento e percepção, além de autocontrole, equilíbrio e aceitação de suas próprias fragilidades. Permitir-se sentir emoções desconfortáveis pode ser muito desafiador, porém reprimir, resistir ou tentar fugir delas, pode ser muito pior. 

Sálua Omais é psicóloga e professora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), tendo sido a 1º profissional a implantar, no estado de Mato Grosso do Sul, a disciplina de Felicidade & Inteligência Emocional como parte da grade acadêmicaPossui Mestrado em Psicologia da Saúde e Saúde Mental, Master Coach e Master Trainer em Psicologia Positiva pela European Positive Psychology Academy, Educadora Certificada pela Positive Discipline Association (USA), Trainer em Neurossemântica e Programação Neurolinguística pela International Society of Neurossemantics (USA). É autora dos livros "Jogos de Azar" (Ed. Juruá/2008) e "Manual de Psicologia Positiva" (Ed. Qualitymark/2018). 


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