A palavra violência é sempre um termo forte, associado a agressões, na maioria das vezes, física. No entanto, a violência verbal e psicológica também fere e causa danos, que podem ou não ser sanados ao longo do tempo. A violência aparece frequentemente dentro de nossa comunicação diária, não necessariamente por meio de xingamentos, gritarias ou grosserias, mas também por meio da frieza, da crítica, do julgamento, das avaliações e dos rótulos que nos colocam. Constantemente estamos julgando, exigindo, culpando, acusando, ridicularizando e até ameaçando pessoas ao nosso redor. Falar e pensar dessa maneira muitas vezes leva a feridas internas, que, por sua vez, evoluem para a raiva ou a própria violência, seja ela física ou verbal. Infelizmente, muitas culturas do mundo ensinam esses métodos "violentos" de comunicação como normais e úteis, e com isso, alguns acabam se fechando ou isolando, para não se expor a um diálogo desconfortável e doloroso, com determinadas pessoas.
A comunicação não-violenta foi um termo trazido há anos atrás, como forma de facilitar o processo de comunicação, sobretudo em situações de conflito e de negociação, tanto em ambientes comuns, como no trabalho, como entre povos, culturas e nações em conflito, buscando assim facilitar as relações internacionais, afim de se chegar a um ponto em comum entre as partes. Hoje, a comunicação não-violenta tem se estendido a ambientes macros, como na política, em empresas, na área educacional, como em ambientes micros, como relacionamentos pessoais e familiares. Pessoas que praticam esse processo descobrem seu impacto transformador melhorando a produtividade no local de trabalho, transformando a raiva e a dor emocional, aprimorando o próprio desenvolvimento e crescimento pessoal. Esse processo está focado em dois aspectos da comunicação: a expressão honesta e autêntica, de forma a inspirar a compaixão e empatia, em um processo de ouvir com compaixão.
A CNV é baseada na ideia de que os humanos são naturalmente compassivos, enquanto a violência (psicológica e física) é aprendida através da cultura, supondo assim que o comportamento humano deriva de tentativas de atender a um pequeno conjunto de necessidades humanas, e, por isso, a maioria dos conflitos entre pessoas surge da falta de comunicação clara e autêntica sobre essas necessidades. O raciocínio é que, a partir da empatia e da compreensão mútua, os participantes serão capazes de encontrar maneiras de satisfazer suas necessidades sem comprometer o seu adversário. Além disso, existem muitas falhas dentro de nossa comunicação, e, nem sempre aquilo que ouvimos do outro, é exatamente o que ele estava tentando nos transmitir. A CNV defende que, para cultivar uma compreensão mais profunda um do outro, as partes devem se expressar em termos objetivos e neutros, preferindo observações factuais sobre sentimentos e necessidades, e não em termos de julgamento, como bom ou ruim, certo ou errado. A partir disso então, as pessoas podem solicitar de forma clara e concreta seus desejos e pedidos.
Os conceitos e ferramentas da comunicação não-violenta são projetados para ajudar o indivíduo a pensar, ouvir e falar de maneiras que despertem a compaixão e a generosidade ao invés de se utilizar de provocações e gestos que despertem a ira e a revolta, elementos esses que dificultam profundamente a solução de um conflito. Por meio desse processo, procura-se assegurar que as pessoas ajam por motivações que não sejam o medo, a obrigação ou a culpa, mas sim pela escuta atenta e paciente, e, sobretudo, pela compreensão das necessidades do outro, em uma construção mútua que seja mais empática e humana.
Sálua Omais é psicóloga e professora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), tendo sido a 1º profissional a implantar, no estado de Mato Grosso do Sul, a disciplina de Felicidade & Inteligência Emocional como parte da grade acadêmica. Possui Mestrado em Psicologia da Saúde e Saúde Mental, Master Coach e Master Trainer em Psicologia Positiva pela European Positive Psychology Academy, Educadora Certificada pela Positive Discipline Association (USA), Trainer em Neurossemântica e Programação Neurolinguística pela International Society of Neurossemantics (USA). É autora dos livros "Jogos de Azar" (Ed. Juruá/2008) e "Manual de Psicologia Positiva" (Ed. Qualitymark/2018).
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