A correria do dia a dia faz com que as pessoas estejam a maior parte do tempo no “piloto automático”, e por essa razão, muitos acabam perdendo de vista os sabores da vida, e detalhes de tudo aquilo que os rodeia, incluindo aí, a alegria de vivenciar momentos, desde os mais simples, até os mais especiais. Quantas vezes durante o dia, comemos sem saborear os alimentos, ou pior do que isso, não conseguimos nem mesmo nos atentar à quantidade de comida que ingerimos, sobretudo se estivermos distraídos assistindo a televisão ou checando mensagens no celular.
Ao conversar com pessoas em casa, ou no trabalho, raramente estamos 100% presentes. A maioria das vezes em que estamos conversando com alguém, nossa mente já está pensando na próxima coisa a fazer, ou, em vez de ouvir ao outro atentamente, estamos pensando na próxima palavra que devemos falar. Aliás, ouvir é algo cada vez mais raro, e, não ter a fala interrompida pelos outros é mais raro ainda! Essa impaciência, junto com a ansiedade crônica, pode vir a ser uma das causas de conflitos e da insatisfação dentro dos relacionamentos familiares e sociais, de modo geral.
Um termo que tem sido muito disseminado nos dias de hoje, para que as pessoas “desacelerem” o pensamento, é o mindfulness. Apesar de ser muitas vezes confundido, mindfulness não é uma espécie de meditação propriamente dita, apesar da meditação ser uma das formas ligadas ao tema, mas sim um estado mental, um estado de presença, um estado de abertura, sem julgamentos ou críticas. É uma prática que exige atenção e intencionalidade em realmente colocar o foco em si, no corpo e na mente, e, por isso, a atenção focada é uma das bases principais do mindfulness. É uma prática exploratória, de curiosidade, que busca perceber nosso mundo interno e externo de forma mais apurada.
Manter a atenção na experiência que se está vivenciando no momento em vez de ficar ruminando pensamentos antigos ou então ficar pensando na série de atividades que devem ser feitas no dia seguinte é uma forma de buscar acalmar a mente. As pessoas que conseguem entrar no estado de presença, e viver o momento presente literalmente, ao invés de viver constantemente no passado ou ficar apenas planejando o futuro, acabam tendo uma percepção mais detalhada dos acontecimentos, tendo sensações mais apuradas, e sentindo e observando de forma melhor as coisas ao seu redor. Elas não se colocam em uma postura rígida quanto a si ou quanto aos outros, mas simplesmente são o que são, e se aceitam dessa forma. Sabem o que ingerir, como controlar o seu corpo e a sua mente, também. Elas sentem o que estão sentindo, sem ficar processando ou tentando entender; apenas sentem. São pessoas que apreciam o momento, se integram – e se entregam, também.
Um dos elementos mais importantes do mindfulness é a aceitação, isto é, dar a permissão a pensamentos, emoções e sentimentos, em vez de criar uma barreira e uma resistência a tudo isso, tentando não aceitar fatos ou eventos que aconteceram. A partir daí, fica mais fácil alcançar um estado de serenidade, equilíbrio e curiosidade, e assumir o controle dos nossos pensamentos, ao invés de deixar que eles nos controlem, e alimentem cada vez mais o nível de críticas e avaliações, que teimamos deixamos a vida nos conduzir, no modo automático.
Sálua Omais é psicóloga e professora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), tendo sido a 1º profissional a implantar, no estado de Mato Grosso do Sul, a disciplina de Felicidade & Inteligência Emocional como parte da grade acadêmica. Possui Mestrado em Psicologia da Saúde e Saúde Mental, Master Coach e Master Trainer em Psicologia Positiva pela European Positive Psychology Academy, Educadora Certificada pela Positive Discipline Association (USA), Trainer em Neurossemântica e Programação Neurolinguística pela International Society of Neurossemantics (USA). É autora dos livros "Jogos de Azar" (Ed. Juruá/2008) e "Manual de Psicologia Positiva" (Ed. Qualitymark/2018).
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