Não costumo escrever postagens fora dos temas que trabalho na Psicologia Positiva, porém, nos últimos dias, tive que abrir uma exceção, por uma causa social, e que acaba também fazendo parte indiretamente, de um dos temas que centrais do nosso trabalho, e que buscamos desenvolver nas pessoas que realizam nossos cursos, justamente para evitar que se chegue em situações como essa: a Inteligência Emocional e a Comunicação Não-Violenta. A violência tem raízes na forma como nos comunicamos, como reagimos, como lidamos com frustrações, com necessidades não atendidas pelo outro, e terminam infelizmente, nas vias de fato, ou seja, na impulsividade, no comportamento agressivo, enfim, na perda total do controle emocional e em tragédias. O comportamento violento, seja de homens ou mulheres, deriva de diversos fatores, culturais, sociais, pessoais, mas também, é algo que poderia demais ser minimizado por meio de uma educação emocional adequada, de treinos de habilidades socio-emocionais, e obviamente também, por meio de freios como legislações que protejam os direitos das pessoas ofendidas.
Nas últimas semanas, um número cada vez mais crescente de matérias e notícias sobre mulheres vítimas de violência vem sendo exposto à sociedade, em diversos meios de comunicação. Alguns podem ter a impressão que os números vem aumentando repentinamente, quando na verdade, o que pode estar acontecendo é simplesmente um olhar mais atento sobre um problema que existe há muito tempo. Mulheres que podem estar mais perto de nós do que pensamos, podendo ser uma amiga, uma filha, uma irmã ou até nós mesmas.
Apesar da repercussão, profissionais de saúde mental sabem muito bem que situações de violência são relatadas por diversas mulheres. A realidade é que para milhões e milhões de mulheres, em todo o mundo, a violência é uma parte cotidiana de suas vidas. Estupro, agressão e outras formas de violência doméstica seja física ou psicológica, são uma parte tão comum da vida das mulheres, e, na maioria das vezes, são atos mais propensos a serem perpetrados por alguém próximo à mulher.
As consequências da violência são extensas, destrutivas e têm um impacto socioeconômico negativo generalizado. Mais interessante ainda quando vemos o quanto outras campanhas na área da saúde conseguem sensibilizar pessoas, como campanhas contra o câncer, ou para a erradicação de outras doenças, enquanto que, campanhas contra essa ‘’doença’’, que se chama a violência, nem sempre consegue atrair o mesmo nível de atenção.
Quando falamos sobre violência ou abuso psicológico, talvez nem todos compreendam a quantidade de atos que podem acarretar esse impacto negativo na mulher. Ameaçar prejudicar a mulher ou pessoas próximas a ela, ameaças de violência, de abandono, destruição de bens pessoais, agressões verbais, isolamento social ou restrição de comunicação da vítima com outras pessoas, tratamento humilhante, degradante ou incompatível com a condição humana, restrição à autonomia e à liberdade de locomoção ou da tomada de decisões, são alguns atos ligados à violência contra a mulher.
Palavras ofensivas à honra, à moral, ou que, de qualquer forma impactem na autoestima, humilhação, intimidação, coação da vítima a qualquer tipo de atitude, provocações e acusações vexatórias, seja de forma pública ou privada também são formas de agressão psicológica. Destruição do patrimônio ou de posses, no intuito não só de provocar a vítima, como também de mantê-la ainda mais dependente e sem recursos para conseguir se manter ou de tentar reconstruir a vida, são tipos de violência que geram sofrimento a um nível extremamente degradante, para qualquer ser humano, independente do gênero.
A violência contra a mulher é um grave problema de direitos humanos e de saúde pública que afeta todos os setores de nossa sociedade e por isso requer um olhar mais atento e cuidadoso, que desperte a atenção das pessoas, que espalhe a informação e a gravidade do problema, e sobretudo, que aumente a percepção tanto de vítimas, como de pessoas próximas a elas, para comportamentos e atitudes suspeitos, que comprometem vidas, ou que no mínimo, deixam marcas profundas que o tempo dificilmente consegue apagar.
Sálua Omais é psicóloga e professora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), tendo sido a 1º profissional a implantar, no estado de Mato Grosso do Sul, a disciplina de Felicidade & Inteligência Emocional como parte da grade acadêmica. Possui Mestrado em Psicologia da Saúde e Saúde Mental, Master Coach e Master Trainer em Psicologia Positiva pela European Positive Psychology Academy, Educadora Certificada pela Positive Discipline Association (USA), Trainer em Neurossemântica e Programação Neurolinguística pela International Society of Neurossemantics (USA). É autora dos livros "Jogos de Azar" (Ed. Juruá/2008) e "Manual de Psicologia Positiva" (Ed. Qualitymark/2018).
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