sexta-feira, 30 de agosto de 2019

APRENDENDO A DIZER ‘’NÃO’’



Sim, é difícil dizer ‘’não’’. Recusar pedidos, favores ou solicitações de filhos, pais, amigos, chefes, vizinhos, colegas de trabalho, ou até mesmo estranhos, não é uma tarefa simples, pois gera sentimentos que nos fazem sentir que somos pessoas más, egoístas, insensíveis. Isso também leva o outro a criar interpretações negativas e pré-julgamentos muitas vezes injustos sobre nós, criados a partir de elementos mais emocionais do que racionais. Mas até que ponto isso também não é uma espécie de escravidão emocional, que nos leva a sempre ter que fazer algo para ‘’agradar’’ e não ‘’decepcionar’’ o outro? 
Ao aceitar tudo que nos solicitam, estamos investindo energia nas prioridades de outras pessoas, e deixando as nossas para trás. A vida exige que tenhamos um equilíbrio entre nós e os outros, para poder efetivamente dizer não com confiança, sem ficar com aquele sentimento de culpa ou arrependimento.
Receber uma resposta negativa não é, e nunca será fácil nem agradável para ninguém, porém, ser educado e gentil é a melhor forma de reduzir a intensidade do ressentimento. Quando recusamos algo, não estamos dizendo isso à pessoa mas sim, ao pedido que ela nos faz, e por isso, é imprescindível deixar claro, antes da recusa, o quanto respeitamos e reconhecemos a importância dela e do seu pedido, de forma sincera, afim de que o outro não se sinta rejeitado ou humilhado por não ter sido atendido.
Uma outra forma de também minimizar o desconforto ao recusar algum pedido, é explicar os motivos e razões, com detalhes. Infelizmente nem todos tem boas habilidades de comunicação, ou de expressão. Um ‘’não’’ seco, é o caminho certo para o rancor. Inventar desculpas nem sempre é a melhor solução, mesmo que pareça ser o caminho mais fácil. Ser honesto e franco, a princípio é o caminho mais incômodo, mas se for expresso de modo gentil, facilita a empatia e a compreensão da recusa.

Dizer ‘’não’’ exige um pouco de prática, e também de coragem, até se tornar um processo natural, ainda mais para quem costuma aceitar pedidos dos outros com frequência. Se alguém está acostumado a dizer sempre sim, será preciso coragem para dizer não, especialmente se for alguém que tem algum vínculo afetivo ou se a pessoa que pede não desiste facilmente. A generosidade é uma atitude muito louvável, porém é preciso medir o quanto também precisamos ser generosos com si próprio.

Recusar um pedido nem sempre está ligado somente a favores, mas também a oportunidades, e aí é que está o grande desafio: como recusar um convite que pode abrir novas possibilidades, seja na vida pessoal ou no trabalho. E por que recusar? Muitas vezes, apesar de tentador, existem valores que são tão ou mais importantes do que futuras oportunidades. Deixar de participar de um evento, recusar um trabalho, para passar mais tempo com a família, para ter um tempo para si próprio, para descanso, para cuidar da própria saúde, são escolhas importantes também. Existem prioridades na vida que podem não ser tão atrativas profissional ou financeiramente, mas que são essenciais para o bem-estar, e que, indiretamente, contribuem para que a mente esteja em paz. Afinal, a vida é feita diariamente de escolhas. São centenas ou até milhares de decisões que tomamos todos os dias. E essas escolhas fazem parte do processo de perdas e ganhos, que nos torna seres em constante desenvolvimento e evolução, sobre aquilo que é realmente essencial e saudável para nós.


Sálua Omais é psicóloga e professora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), tendo sido a 1º profissional a implantar, no estado de Mato Grosso do Sul, a disciplina de Felicidade & Inteligência Emocional como parte da grade acadêmicaPossui Mestrado em Psicologia da Saúde e Saúde Mental, Master Coach e Master Trainer em Psicologia Positiva pela European Positive Psychology Academy, Educadora Certificada pela Positive Discipline Association (USA), Trainer em Neurossemântica e Programação Neurolinguística pela International Society of Neurossemantics (USA). É autora dos livros "Jogos de Azar" (Ed. Juruá/2008) e "Manual de Psicologia Positiva" (Ed. Qualitymark/2018). 


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