Mídias sociais são
utilizadas por bilhões de pessoas em todo o mundo, e muitos profissionais as
consideram potencialmente perigosas, pelas mais diversas razões. Alguns alegam
que reduz a conexão e a sociabilidade entre as pessoas, outros alegam que
estimula o consumismo, a competitividade, fazendo com que seguidores mergulhem
em um estado de ansiedade, depressão, redução da autoestima, problemas na
autoimagem, aumento da sensação de fracasso, sobretudo ligadas ao trabalho e a
relacionamentos, em virtude das comparações sociais e do exibicionismo virtual
que a própria mídia social estimula. Outros pontos negativos das mídias são o
sedentarismo, o isolamento, a dificuldade de foco e concentração em tarefas
comuns, e a perda do tempo, o qual poderia ser despendido em outras atividades.
A maioria dos profissionais é treinada para olhar para o risco em todos os
lugares. Alguns se baseiam na realidade,
outros se baseiam no medo, ou num olhar focado para os piores cenários. Procuramos
sintomas, fatores de risco e sinais de que as coisas não estão corretas ou
causam algum tipo de problema no indivíduo ou na sociedade.
Esse olhar com foco apenas
naquilo que é ruim, é um padrão que faz com que muitas vezes, as pessoas se
restrinjam ao lado negativo de qualquer coisa, mesmo sabendo que absolutamente
tudo na vida tem seu lado bom, e seu lado ruim. Interpretar os fatos dessa
forma é uma visão robótica e eternamente insatisfatória, pois faz com que se
chegue à simples conclusão que não existe e nunca vai existir algo no mundo que
seja realmente bom ou benéfico para o ser humano. E não existe mesmo!
A mídia social pode ser um
local muito estressante e uma fonte de ansiedade, porém, será que isso também
não depende da forma como a utilizamos? Até quando responsabilizaremos as
ferramentas, ao invés daquele que a utiliza? Por que condenamos então a
tecnologia, que, ao mesmo tempo que traz problemas, também traz muitos
benefícios à sociedade. Por que condenar uma ferramenta que, ao mesmo tempo que
estimula o exibicionismo, também nos traz informações do outro lado do mundo,
que possibilita conexões com pessoas de outros países e culturas, que também
estimula a sociabilidade, porém de uma forma diferente do tradicional, e que
também, aproxima aqueles que não podem estar próximos em razão da distância?
Será que ao se condenar as mídias sociais digitais não estamos na verdade
estimulando a vitimização de pessoas que, ao invés de se responsabilizarem
pelas suas ações, tendem a projetar a responsabilidade de seus atos e suas
decisões sobre objetos, pessoas e instituições?
A mídia social não é
inerentemente ruim. É difícil dizer que uma plataforma de mídia social é
inerentemente "ruim". O tipo de conteúdo que está sendo consumido pode
levar a efeitos nocivos, assim como também a forma que pessoas interpretam tais
conteúdos. E então, onde fica a capacidade de escolher o que vemos? Será que
seremos sempre pessoas passivas, que não tem nenhum controle sobre aquilo que
chega a nossos olhos? Quem faz a escolha das pessoas que serão nossos amigos ou
que iremos seguir nas mídias sociais? A mesma mídia que traz tais conteúdos,
também oferece configurações para que o usuário escolha o que ele quer ver, o
que lhe interessa mais. Logo, quem é o culpado? Refletir sobre essas questões
pode nos ajudar a concluir que, o que importa não é classificar ou rotular quem
é o vilão ou quem é o mocinho, mas sim ativar a percepção sobre até onde vai a
nossa criatividade, adaptação e capacidade de fazer escolhas saudáveis, do que
dos produtos ou invenções que estão ou que ainda venham a surgir ao nosso
redor.
Sálua Omais é psicóloga e professora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), tendo sido a 1º profissional a implantar, no estado de Mato Grosso do Sul, a disciplina de Felicidade & Inteligência Emocional como parte da grade acadêmica. Possui Mestrado em Psicologia da Saúde e Saúde Mental, Master Coach e Master Trainer em Psicologia Positiva pela European Positive Psychology Academy, Educadora Certificada pela Positive Discipline Association (USA), Trainer em Neurossemântica e Programação Neurolinguística pela International Society of Neurossemantics (USA). É autora dos livros "Jogos de Azar" (Ed. Juruá/2008) e "Manual de Psicologia Positiva" (Ed. Qualitymark/2018).
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